Dumbledore disse certa vez que “são nossas escolhas que revelam o que realmente somos, muito mais do que nossas qualidades” e ele, é claro, está invariavelmente correto. Bem, mas isso torna as coisas um pouco… complicadas, certo? Não é exatamente fácil tomar decisões na vida, quaisquer que elas sejam. O universo e suas leis de causa e consequência fazem com que uma escolha simples seja responsável por desencadear uma série de acontecimentos inesperados e, por muitas vezes, indesejados. É natural, portanto, sentir-se inseguro diante dos passos que a vida nos obriga a dar.
E, sendo sincera, a insegurança e a indecisão não estão presentes só nos fatos importantes. Sempre nos perguntamos o que vestir, que livro comprar [primeiro], o que dizer naquela hora crucial. Todos nós já hesitamos em algum momento, sem saber como proceder no minuto seguinte, procurando dentre todas as possibilidades que surgiram em nossa mente por aquela que melhor se encaixasse e prometesse um futuro menos problemático. Todos nós tentamos acertar e talvez esse desejo constante também ajude a fazer das escolhas uma tarefa realmente difícil.
Em nenhuma situação, estaremos totalmente certos de nossas atitudes. Pode parecer - até a nós mesmos -, mas a insegurança estará sempre ali, pronta para sua primeira aparição na parte mais preocupante do processo. Temos medo de errar, afinal, medo de estragar tudo, medo da mudança. Gostamos das coisas do jeito que estão, porque não sabemos se, fazendo algo ou deixando de fazê-lo, tudo irá mudar para pior ou melhor. É a incerteza a principal responsável pelo comodismo e a estagnação, enquanto a determinação e o idealismo são os principais causadores da mudança, da evolução. E no meio disso tudo, precisamos decidir quais destes sentimentos seguir. Logo, mas uma escolha em nossas vidas.
Mas não se preocupe. Todo mundo passa por isso, até mesmo aqueles que nem em nosso mundo vivem. Perdi a conta de quantas vezes Harry precisou escolher um caminho, decidir de que lado ficaria ou o que faria a seguir, se era hora de arriscar ou simplesmente esperar. Contudo, talvez o maior peso das escolhas tenha caído sobre Dumbledore - e certamente o mundo mágico deveria agradecer por essa tarefa estar em mãos tão capazes -, já que ele, direta ou indiretamente, controlava a vida de dezenas, quiçá centenas, de pessoas, bruxas ou trouxas. Mo também teve de decidir o próprio caminho, os segredos que deveria manter de Meggie e o tipo de vida que deveria levar, depois de tudo o que lhe acontecera. Claro que isso o levou a uma série de fatos inimaginados, que mudou completamente a sua realidade.
E Percy? Tudo bem que ele estava sempre metido em tudo, mas boa parte dessas aventuras foi escolha dele próprio. E quando ele encontrou Janus - o Deus das portas, dos dois lados e das indecisões - no labirinto e ele e seus amigos quase ficaram perdidos em suas alternativas até que houvesse intervenção alheia? Não é por acaso que existe um Deus na mitologia grega para controlar isso. É um poder subestimado, afinal. Capaz de provocar um excesso de autoconfiança ou uma sensação de fracasso constante, capaz de enlouquecer até o mais centrado dos homens.
Se não fosse pela escolha de Edmund de ser diferente, superior aos outros irmãos e acompanhar a Feiticeira Branca, provavelmente a luta pela reconquista de Nárnia não fosse tão complicada. Ou melhor, se não fosse pela escolha de Edmund, provavelmente Peter não teria aceitado entrar numa guerra se ele acabara de fugir de uma e nada daquilo teria acontecido. Isso é para que saibamos que até mesmo as decisões erradas podem, vistas por um ângulo diferente, resultarem em consequências válidas. Uma má escolha pode resultar em uma trilha boa, no futuro. Não é uma ciência exata, afinal. Sem falar que nosso discernimento sobre o que é ‘bom’ e ‘ruim’ é baseado no conhecimento de hoje, e não no de amanhã.
Então, talvez não precisemos temer tanto nossos próximos passos. Apenas tentar avaliar o que parece melhor e seguir em frente. Porque dentro das opções de portas que se abrem, há sempre outra infinidade de portas e estamos sempre em um processo de decisão constante. Ou seja, mesmo que se tenha escolhido algo ruim ontem, o hoje nos dá a alternativa de tomar outra decisão e trilhar outra possibilidade. É impressionante e encantador perceber o quanto nós mesmos somos donos do nosso destino. Não sabemos disso, ou não reparamos durante o dia-a-dia, mas escrevemos e reescrevemos nossa história a cada ação tomada e nem mesmo percebemos a infinidade de vidas que poderíamos ter vivido, se imaginássemos uma sequência de fatos para cada atitude. Mas aí estaríamos ignorando outras tantas sequências e perdido outras tantas vidas e… enfim.
Basicamente, uma decisão pode nos perder e outra nos achar, repetidas vezes ao dia, durante toda a vida.
Complexo, não?